A MINHA ALDEIA

Na minha Aldeia o sol nasce tarde

Porque tarde se despede

Engolido, pelas águas da travessia.

Ao derredor das pedras desgarradas

Sobre a areia fina e macia da praia

O encontro das águas mornas com os meus pés descalços.

Banhados pelo sol abrasador

Os sombreiros despem-se das suas vestes.

Lançando as suas largas folhas

Ora sobre as terras de Santo Antônio

Ora sobre as águas da maré alta.

***

Ao meio-dia as marolas chegam à Lisboa

E o silêncio torna-se um canto.

Os pássaros se agrupam aos bandos.

A natureza risonha se deleita.

E as horas, bocejando

Perde-se na contagem do tempo.

***

O homem vive em num mundo ágil e moderno

Mas, por horas, selvagem por demais.

Não só por causa das feras lá fora

Mas das batalhas que vai travando dentro de si.

Viver intensamente com a natureza

Faz a sua consciência e os seus sentimentos aflorarem em paz

E equilibram a sua alma e o seu espírito.

***

O vento nordeste preguiçosamente

Empurra a tarde para as montanhas azuis.

Quando o sol se põe em Santo Antônio de Lisboa

Temos a impressão que uma vida inteira ali se realizou em um só dia

Deslumbrados pela aquarela das cores de encantos e magia.

Deus criou esta obra-prima e nada esqueceu.

***

Apagam-se as luzes do cenário.

Mas os entes da natureza continuam a contracenar

A lua chega e cheia de brilho prateado.

Esparrama-se sobre o mar em espelho d'água

E na penumbra dos sonhos a tudo percebemos.

Desde as constâncias da quebra das ondas

Até o voo silencioso da gaivota perdida.

Enquanto o Mundo lá fora lambe as feridas do progresso

A Aldeia se cala.

Ela sobrevive,para a paz do meu interior.

***

SANTO ANTONIO DE LISBOA/FLORIANÓPOLIS (SC)

Robertson
Enviado por Robertson em 17/03/2019
Reeditado em 16/01/2020
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