Carta pra Nina Simone.
Dedicado a Joice Cozza
 
Não tenho casa, não tenho quartos
roupas, dinheiros ou sapatos
Não tenho saias, oh Nina.
Não tenho classe
Não sei me portar
Não tenho fé e nem em quem votar

 
Não tenho cultura, nem profissão
Não tenho pai, mãe, quiçá irmãos
Não tenho filhos (aí, como queria)
E assim dizia os tios: abra as mãos.
Não tenho tio, não tenho um grande amor,
Isso já não tem mais importância
Não sou mais criança

Não tenho país, nacionalidade
Não tenho amigo, não tenho nada
Não tenho espada, integridade
Não tenho pinga ou sanidade
Não sei fumar, nem sei beber
Eu não tenho o ontem, nem você

Não tenho ar
Não tenho amor
Não tenho Deus
que tanto me prometeu


E você me pergunta se eu reflito
O que tenho
Por que estou vivo?
Por que insisto nesse inferno?
Sim, vai pro inferno... porque
O que tenho
Ninguém pode tirar de mim...


Eu tenho a minha cor, meus lábios grandes
Meu nariz, meus riso
Eu tenho meus dedos, minhas pernas
Minha barriga, nisso eu insisto... é minha..
Eu tenho meu peito, meu sangue e fígado
Eu tenho meus poucos cabelos
Dentes, rins e orelhas
Eu tenho, apesar de muitos que não queiram,
Minha vontade de viver


Tenho a história que ninguém poderá compreender


Nina... eu tenho minha língua, meu queixo
Meu pescoço, minha alma
E os beijos guardados
Eu tenho minhas costas
Meu sexo e meus fardos


Vai pro inferno todos que não me deixam sorrir
Eu tenho vida, a liberdade...
Enquanto eu puder
A escolha de ficar ou partir
Eu tenho essa lugar
dentro de mim.

Dir Valdir Lopes
valdirfilosofia
Enviado por valdirfilosofia em 09/03/2019
Reeditado em 09/03/2019
Código do texto: T6593888
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