BRUMADINHO

Faltam as Janelas para ver as Estrelas.

Faltam as Portas

Para sair em direção do Futuro.

Faltam as Cortinas

Que são as mensageiras das emoções do Tempo.

Falta o Tapete

Que recebe quem chega e que olha sorrateiramente quem sai.

Faltam as Vidraças para encostar o rosto

Aguardando o amor retornar.

Faltam as Cadeiras que vazias são símbolos da Saudade

E com elas ocupadas conseguimos aí sim, assentar os Pensamentos.

Falta o Armário, alto, desengonçado, mas tão útil.

Ali estavam as roupas mais belas e os perfumes mais caros.

Falta o Espelho que sempre renovava a imagem

Ou a imaginação.

Falta a Geladeira que gelava tudo

Do sorvete, a sobra do feijão.

Falta o Fogão que esquentava tudo

Mas nunca queimava mais do que o coração.

Falta a Mesa da cozinha e as cadeiras.

Quem sentava na ponta pagava a conta e sempre era ele

Mas agora? Quem vai pagar a conta?

Falta a Pia onde se lavava a louça, os alimentos.

Ali se lavaram os últimos pratos e as últimas canecas.

Falta a Cama que era o ninho, que era o pouso de pássaros noturnos.

Ali surgiu uma nova geração feita em amor.

Falta a Televisão.

Faltam os Trastes jogados pelas gavetas, pelos cantos, pelos ranchos.

Muitas outras coisas da nossa Vida são jogadas num canto do coração

Faltam os Sonhos que foram sepultados pelo barro, pela água e pela tristeza.

Havia um Caminho entre as casas e entre os corações

Muitos se conheceram andando por ali.

Nós o chamávamos carinhosamente de Caminho do amor

Hoje o Caminho não existe mais.

Foi engolido pelos deslizamentos.

Será feita uma nova estrada longe dali.

Mas será difícil de encontrar os mesmos corações novamente.

Erguer-se-ão Novas Casas

Novos Móveis serão doados

Humildemente se aceitará tudo o que os amigos solidários entregarem

E de coração serão todos abençoados.

Mas me falta aquela Caneca da alça quebrada.

Onde eu tomava o café quente olhando pela porta, o sol nascer por sobre os montes, toda manhã.

Escutando o cantar dos pássaros e apreciando os seus coloridos.

Sempre achei que as Flores seriam eternas, mas não foram.

Seus pés hoje jazem aos meus pés.

A água e a lama levaram quase tudo... Mas tudo elas não levaram.

Deixou algumas Pessoas, Almas, Corações, Sentimentos e Vontade de Vencer.

As obras boas e a más passam, mas o Amor sobrevive a todas elas.

...E faltou a sirene.

(Sempre falta uma sirene no Brasil, por que será?)

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Do autor:

Este texto é uma ficção, mas foi fundamentado na verdade dos fatos.

Tanto das enchentes de 2008 em Santa Catarina, quanto das tragédias de Mariana e de Brumadinho em Minas Gerais.

E de tantas outras Brasil adentro.

Se não aprendemos com a dor, o que será de nós?

Robertson
Enviado por Robertson em 05/03/2019
Reeditado em 19/01/2020
Código do texto: T6590544
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