Despoesia

A realidade enfeia qualquer beleza

A bela miragem se dissolve

no calor da areia sob os pés descalços

Miragem é apenas isso: miragem

A vida é deserto

A presença dissipa a pureza da ideia

De olhos fechados, o coração suspira,

ama a ilusão e sonha com o prazer longínquo

que só aceita abraços líquidos

que escorrem no abrir dos olhos

A flor perde o perfume e a cor

quando é arrancada e possuída

A beleza dorme, com indiferença, no sonho

O castelo de amor platônico se desmorona

diante da mais tênue brisa do despertar

No vestíbulo, a felicidade é eterna

Quando se abre a porta,

a rudeza zomba do devaneio da expectativa

Escondidas sob a maquiagem da vida

estão as incômodas rugas da verdade

É preferível evitar espinhos verdadeiros

a desejar o perfume da imaginária rosa

Pois a vida, em sua despoesia,

oferece a poesia cotidiana,

que reside fora da caverna,

lugar dos sonhos eternamente esperados,

dos sonhos, eternamente sonhos

Osvaldo Júnior
Enviado por Osvaldo Júnior em 20/02/2019
Código do texto: T6580041
Classificação de conteúdo: seguro