O TEMPO

Arranquei, do relógio, os ponteiros,

pensando assim parar o tempo;

mas veio o sopro, leve, sorrateiro,

a me dizer que logo chegará o vento...

O tijolo, puído, logo veio me confessar

que fora um dia areia de mais de mil grãos;

mas que mãos se puseram num ajuntar

até torná-lo massa concreta a se erguer do chão...

A rosa, espatifada, me contou das pétalas macias,

que de tão bela fora oferecida a uma rainha;

que, ao lado do poeta, inspirara-o em bela poesia

à rainha celeste, uva madura de rubra vinha...

Lá, onde mora o passado, que passa o tempo a passar,

existe um relógio que todo dia se espatifa em ilusão,

mas, que só lá é possível, onde todos se põem a sonhar,

pois é feito dos mais puros sentimentos do coração...