AQUELE HOMEM

Aquele homem, sentado em seu sofá,

a tv ligada e ele a por em dia as acontecimentos,

se lhe derem a chave do mundo o que fará:

viverá da casca ou se verá, por fim, por dentro?

Aquele homem, escovando os dentes,

será que verá as pontas dos sentimentos ferinos

ou, como faz tantos todos, tanta gente,

usará as pontas ferinas dos seus caninos?

Aquele homem, dizem, a mais de dois mil anos,

deu a outra face a quem lhe outorgara castigos,

a tanto tempo o homem de agora não reparou os enganos,

não absorveu o néctar do mais puro amor, nem plantou trigo...

Aquele homem que vaga pelo palácio de minério amarelo,

será que não conheceu as leis de dar ao outro fartura,

será que não se lembra das sandálias, hoje então chinelos,

será que não conhece os malefícios da simples usura?

Aquele homem, que é você, será o representante da raça,

último da espécie a ouvir os rugidos da violência sem piedade,

será que verá a estupidez humana em toda a sua trapaça,

terá a lucidez necessária para erigir a estátua viva da bondade?