Solidariedade

Subi ao céu por uma escada de possibilidades.

Os degraus eram estreitos.

Não cabia um pé, somente uma mão.

Mas eu não subi equilibrado nas mãos.

Subi de lado.

Se um pé, ao comprido, não cabia,

Virado, perfeitamente servia.

Foi difícil, nunca impossível.

Chegaram a faltar alguns degraus pelo caminho.

Dificuldade redobrada.

Então eu pulava.

E vencia três degraus,

Ao invés de um por vez.

Quando alcancei um terço da escada,

Um suposto indivíduo, lá de cima, derramou um balde de sabão,

Sobre o caminho que eu deveria vencer.

Pensei que um anjo não poderia ser.

Repensei e concluí que só poderia

Ser mesmo um anjo,

Vindo do lugar de onde vinha.

Talvez, Um anjo desajeitado.

Então ocorreu que eu subia um degrau,

Escorregava dois.

Ao invés de subir,

Eu estava descendo cada vez mais.

Desanimei,

Pela primeira vez,

De uma forma inconsolável.

Sentei na beiradinha

Esperei horas até o sabão secar.

Então me levantei bruscamente

E tive uma vertigem.

Me desequilibrei

E fiquei pendurado na escada.

Vieram uns indivíduos pequenininhos,

Que ficaram pisando nos meus dedos,

Ao invés de me auxiliarem.

Mas me mantive firme,

Suspenso pelas mãos.

Venci os individuozinhos

Pelo cansaço.

Ficaram irritados

E foram embora correndo.

Acabaram rolando escada abaixo.

Eu, pendurado, quase um inútil.

Um rapaz, sem pernas, apareceu do nada.

Conseguiu me puxar,

No momento em que eu estava quase cedendo ao esgotamento físico.

Ele tentou comprar as minhas pernas,

Para poder subir a escada em meu lugar.

Fez chantagem emocional,

Mas eu não cedi.

Segui firme em meu propósito.

Coloquei-o em minhas costas,

E carreguei-o junto a mim.

O esforço era redobrado,

Mas eu jamais negaria um favor a quem havia salvo a minha vida.

Continuei subindo e nem percebi quando a escada terminou,

Tamanho era o meu costume de subir.

Pisei em falso e iniciei um brusco movimento de queda-livre.

Eu e o homenzinho despernado,

Estávamos prestes a nos espatifarmos no chão.

Mas não.

Comecei a voar.

No lugar do homenzinho que se pendurava em minhas costas, brotaram duas lindas e enormes asas de anjo.

Elizabeth Eifert
Enviado por Elizabeth Eifert em 26/01/2019
Código do texto: T6559555
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