O Artesão

O Artesão

O Homem brinca de Deus ao criar, e

Criando, Deus brinca de ser homem

Personificando-se em barro, como se

Tomasse o papel vivo do objeto maleável.

E molda e desmolda, desfaz e remodela

Insaciável como torna o cio uma cadela

Numa cria após outra que outra cria dá

E dá vida à outra que noutra vida dar-se-á.

Vida do barro, do barro exausta e triste

Anseia por vida nova com dedos em riste

Impulso criativo, do amor à descoberta

Rompe o celibato dando razão de pernas abertas.

Regurgita a céu e terra fluidos produtivos

Desconhece esterilidade o braço lascivo

Quando com luvas de porcelana os deuses

Do amor, luxúria e zombaria masturba

Colhendo alegremente a semente destes

e, sem demora, dentro de si as entuba.

Floresce das entranhas do artesão térreo

Hefesto. Hefesto chamar-se-á! Diz o chão ébrio.

Ébrio ante à cria, cria que dará cria, assim queria,

Queria e ansiava o artesão primeiro. Assim o cria.

Assim o cria e assim surgiu o artifício da fé.

E que criaria Hefesto, que fruto tomaria deste pé?

Doce, tão doce, não demorou a atrair abelhas em enxame!

Com sua rainha tratou o artesão:

“Tome de morada minha cria, mas obsecro que a meu filho

Seu vil ferrão de maneira alguma dane!”

Selou-se o pacto e lá reinaram as meretrizes do mel

Vigiadas pelo Artesão, interesseiro e muito atento,

Fazendo juras a Hefesto por tamanho desagravo

Pois que seu olho já crescia sobre os fluidos de cada favo.

Cera! Cera! Banhou as mãos em cera após ganhar seu tempo

Violar os favos e mandar em chamas que retornassem as abelhas noutrotempo.

Meditou sobre o fluido. Meditou atemporalmente.

E libido criativa outra vez inundou a sua mente.

Isto é filha de Hefesto por direito! Exclamava impaciente

Ao planejar a continuidade de sua cria doente, alegremente.

Moldou e desmoldou, e desfez e remodelou

E com seu impulso por tempo demasiado copulou.

Vestiu as luvas e agradou aos deuses, tirou-lhes vez outra vida

Que regurgitou sobre a boneca, agora de fato nascida.

Rija e inexpressiva, expressando-se e ainda rija

O duro sorriso de Pandora ao artesão muito regozija.

Bendita sois vós entre as mulheres ó prole de Hefesto!

Exclamou o já mortalmente ébrio,

Pai de todos, Artesão térreo, brinquedo de Deus e que de Deus brinca

Satisfeito com a maldição lançada, Pandora, destino dos homens manifesto.

Vinícius Alvarenga
Enviado por Vinícius Alvarenga em 11/01/2019
Código do texto: T6548794
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