Eu vi um menino
Havia um menino ali
deitado na calçada
todo esfolado.
Andava cabisbaixo
todo surrado
sem pai nem mãe
mendigado.
Só tinha irmão
mas de tanto fazer mão
já tinham matado.
Pedia no sinal
um sorriso qualquer
um abraço
qualquer migalha que fosse
um afeto
um trocado
pro pão.
Enquanto o outro
menino do parcão
brincava com o irmão
chorava entediado
por falta de opção.
Pedia caviar
repugnava pão.
De uniforme da escola
tomava nescau
água mineral
e coca-cola.
E no carro do pai
sempre encontrava
o menino da calçada
pedindo perdão.
Este da calçada
mal comia
não respirava
mal sobrevivia
e não chorava.
Apenas esperava
a vida lhe acabar
com toda essa desgraça.
Acabou morrendo de esperança.