A TERCEIRA POESIA
Quando cresci, deixei minha criança cuidando das flores...
Olhei para trás umas duas vezes, não queria chorar...
Minha criança sorria e me dizia adeus, acenando...
Os prédios subiam e subiam crescendo quase até o céu...
Entrei em um deles e arrumei emprego para o dia todo...
Fechava e abria cartas endereçadas a quem, nunca soube...
Almoçava sozinho e pensava na minha criança, acenando...
Chegava em casa e ela, sozinha, me esperava sem sorrir...
O livro que eu lia estava no fim e isso me apertava o coração...
Procurei o que fazer e escrevi a primeira poesia da minha vida...
Olhei pela janela e a lua estava lá, quieta e mão no queixo...
Gastei anos da minha vida procurando o que fazer...
Um dia saí pela porta e nunca mais voltei àquela casa...
Parecia que eu tinha andando cem trilhões de quilômetros...
Fiz o caminho de volta dando voltas e me perdendo na escuridão...
Vielas e becos velaram meu sono quando me perdia na busca...
Conheci o lado bom de algumas pessoas e tantos outros lados maus...
Joguei no rio da vida tudo o que tinha acumulado nos bolsos...
Olhei para o céu e lá estava uma pequena estrela com um menino...
Sentei na calçada e reparei que as rodas dos carros giravam iguais...
Num pedaço de papel escrevi meu segundo poema e o apreciei...
Sem muito reparar entrei numa rua de terra e vi uma luz acesa...
Abri o portão de um quintal e havia um jardim com rosas vermelhas...
Perguntei onde eu estava e uma delas me disse para seguir...
Atravessei a cidade e o campo me esperava com um amanhecer...
Quando cheguei ao topo do monte uma criança acenava para mim...
Eu conhecia aquele aceno e aqueles olhos eu já havia visto...
Cumprimentei-o com um sorriso e nos sentamos para conversar...
Contei a ele coisas sobre pedras e minérios e empregos e pessoas...
Ele me falou de caramujos e formigas e folhas que caem das árvores...
Juntos relembramos tantas coisas que, cansados, dormimos ali mesmo...
Quando acordei não mais sozinho, era como se tivesse dois corações...
Feliz e contente por ter acordado, nada tinha nas mãos,
tinha o mundo em mim...