COISAS ESTRANHAS

É estranho pensar que o que chamam de Deus

pode estar bem perto de você, ou dentro de você,

mas a religião o vende como o Senhor das Glebas do Céu,

que teve um filho que chamam de Jesus e que ressuscitou

no terceiro dia, mas as religiões insistem em mantê-lo pregado

numa cruz bailando no céu como um astro pop...

É bem mais estranho pensar que quando se nasce se recebe

o mundo como presente e logo em seguida o tomam de você,

que vão lhe dar uma parte, daí você cresce e fazem com que

você esqueça que era seu, repartiram-no como a uma pizza,

o seu pedaço está com alguém, daí você vira um lutador

para tomar a sua parte de volta...

E muito mais estranho é ver a maior parte da humanidade

caminhando como um rebanho, ou em torno do poço, puxando

água, como animais de quatro patas, ou vivendo como moscas

ao redor de um doce chamado dinheiro, comprando roupas

e utensílios, mandando seus filhos às escolas que hoje são

os matadouros da cultura, assistindo outros homens aniquilando

o planeta, decepando as cabeças das árvores, colocando veneno

nos alimentos, (tudo em nome daquele doce), manchando a camisa

no peito onde deveria estar escrito a palavra honra, arrancando

as veias onde deveria estar correndo o sangue do caráter,

homens que se chamam homens mas são apenas animais políticos,

não polidos,(lembra do doce?), oferecendo a outra face, (a do outro),

e, diante do que se passa no mundo, a fome, as guerras, o medo,

assistem como a um espetáculo que podem mudar através

do controle remoto pois nunca estão lá, não sujam as mãos com a terra

vencida pela ganância, não colhem os grão venturosos que nos dá

a natureza através de seus mecanismos orgânicos, nem reparam

que só há um mar chamado água, que só há uma sede para todos

os corpos...

E toda estranheza desaparece quando surge o sentimento

de reconhecimento que vem do cérebro, passa pelos olhos,

cada pedaço do universo reconhece a outra parte como

fosse a mesma, se desveste de toda estranheza filosófica,

nem repara na roupa em frangalhos ou no terno de fino corte,

nem na esmeralda no dedo anelar ou no corte por recolher latas,

todas as coisas fragmentadas se juntam, a cola especial e ó amor,

que não sabemos o tamanho ou a cor, nem se se pega como doença

ou apenas se instala como fosse o homem a verdadeira estalagem,

a pousada que o amor procura para passar um tempo ou ficar para sempre...