O julgamento do Psique
Lá fora o tempo brinca de sol e chuva, de luz e trevas e vira rotina essa sensação de ir ou não ir, entrar ou não entrar,, correr os riscos, ou se recolher e jamais experimentar o gosto do veneno que irá te matar ou fortalecer.
Tão confuso o nosso ser, imitando o tempo lá fora, nessa arte de viver entre a alegria e a dor, entre lágrimas e sorrisos, entre sonhos e fantasias, entre o fim e o começo, e se sentir perdida sempre no meio.
Pela manhã ouço o canto dos pássaros que avisam que o dia clareou, ouço gatos miando no corredor, e por dentro meu amago só quer dormir e se deixar esquecer a dor, e por onde tudo começou.
Um dia fui sol, senti o ardor me queimar por dentro, senti a vida me chamar, e as chamas eram brasas , virando faíscas pelo ar.
Quando a chuva chegou, levou tudo que restou, quando esse tudo eram as cinzas , que minha alma se transformou.
A paixão é assim, vem como força bruta, feito furacão, levando tudo, deixando somente a loucura e a sensação de ter perdido a razão, caída num abismo sem fim onde um caos se inicia ali.
Ainda vejo lá fora que talvez possa ser um dia lindo.
Procuro minha melhor roupa e meu tímido sorriso guardado no olhar, molhado por ter chorado a noite passada, me deixo sonhar com o dia que ainda virá.
Ainda que por dentro, exista um cemitério de desilusões, uma desordem incontrolável, difícil de arrumar, me deixo ser presa e julgada como ré no juízo final .
A culpa do psiquê foi viver o amor entre o fogo e água, por ter brincado com fogo e se queimado, ter entrado no mar sem saber nadar.