a vida onde
A vida, como se dá?
Se á luz do dia meninos
Que deveriam estar na escola,
Rastejam em troca de uma moeda,
Onde a vida está quando homens tropeçam
Seus narizes em cheiros vaporados de medo
E angustia, onde a pressa e o cansaço se infiltram
No corpo como se dela fossemos parte, onde
Meninas semi- vestidas se vendem por algumas
Horas a homens que em seus discursos são homens
De prata e verdade , onde a tristeza se estampa
Como souvenirs nas faces desiludidas que se amontoam
Como gado num trem superlotados, que em suas
Paredes mulheres lindas anunciam o melhor xapu
Para cabelos encaracolados, que um vagão inteiro
Foi pintado com as cores de determinada marca de
Frango, de maneira que o tal franco lhe sejam na
Viagem suas moradas, são sete horas da noite, meu
Corpo é o corpo que lateja o tédio adquirindo em oito horas
De depoimentos raros, desço as escadarias, sinto de novo
A infância latejando, a cidade é um bosque de pedra e de longe
Imagino se a vida está nas janelas iluminadas dos prédios modernos,
A noite me atravessa e sinto sua escassez de novidade, conheço
Esse tremor, esse vazio, essa sede, mas pergunto de novo: cadê
A vida, a esperança que relaxa, que cabe futuro e passado num
Presente iluminado, a vida passa á margem, longe, nem a menina,
Nem criança, nem o mendigo, nem nesse afogado que escreve um
Poema, querendo como troca a mínima satisfação de não sentir desalojado