Intervalo
Num intervalo dos meus dias
A vida era linda, e eu um herói
Sem camisa, sem cama e sem
O amor de quem ama, caminhava
Sem saber o que buscava.
Na verdade eu fugia
Não sei se da noite ou do dia.
E quando me tiraram
Do meu sonho rejeitado
E me jogaram na realidade,
Tudo virou verdades,
E o meu peito chorou
Pedras e espinhos
Que nele foram semeados.
Foi o fim de um tempo,
O início de outra era,
Uma era desconhecida,
Que poucos puderam
Ter conhecido na vida.
E quem sabe mesmo sem
Mirar para a maldade,
Alguém ignorou
A minha pouca idade
E transformou meus sonhos
Em pesadelos da realidade.
Foi massacre no desenvolver
Do meu ser tão humilde,
Porém nada mesquinho.
Sepultei os meus sonhos,
Derrubei meus castelos
E reconstruí tudo
De uma forma diferente.
Foi uma explosão na
Minha alma, quintal do desapego.
Eu não queria nada
Além de paz, amor e sossego.
Se perdi, não sei.
Também não sei se ganhei.
Sei que tudo continuou
Girando como deveria.
Então me fiz meu herói,
Cavalguei no destino
Rumo ao desconhecido,
Fugia de mim como
Se eu também fosse
O meu próprio bandido.
E tudo doeu porque
Caminhava sozinho pela rua,
Tendo quem sabe talvez a lua
Para entregar as minhas queixas,
Para dizer que sorria
Tentando sepultar as lágrimas
Numa outra alma baldia.
E a vida, princesa desconhecida,
Que me chamava com uma rosa
Nas mãos, me intrigava,
Me torturava, pois não compreendia
Quem era o autor da razão.
Qual razão?
A dos versos que doíam?
Ou da foto da solidão?
Agora sim, eu herói
De mim mesmo.
Faço festa com o desprezo
E dou vida a agonia.
Tenho o meu rumo traçado,
E outros castelos e sonhos,
Pois quando estava escuro
Não podia ver o muro
Que me separava de mim.
Hoje tudo se tornou assim:
Distribuo o que não recebi,
Porque o que eu plantei
Foram sementes do meu ser
Que mesmo sem perceber
Em todo o tempo eu colhi.