ATRÁS DO SOBRADO
Atrás do sobrado onde vivia,
o menino via a mansão,
uma casa de pedras beges
muito, muito antiga.
O menino ainda não conhecia o antigo.
Atrás do sobrado,
no terreno da mansão,
o menino também via um tanque de concreto vazio.
Era a piscina sem o azul dos nadadores.
O menino não conhecia piscinas.
Atrás do muro,
entre o sobrado e a mansão,
o menino via grandes bananeiras
de folhagem verde cortada e quebradiça
que aceitavam o vento.
O menino não conhecia bananeiras,
pois bananas surgiam da feira de sábado.
Atrás do sobrado
na mansão,
o menino nunca viu ninguém ali,
não imaginava a cara dos donos,
O menino não conhecia esconderijos em 1969.
Hoje atrás do sobrado ainda intacto,
onde morava o menino,
construíram um prédio de apartamentos,
um edifício muito, muito alto
e o menino já aguarda a velhice,
as piscinas disputam um azul de muitas raias
e o menino nem procura os moradores,
donos das varandas.
Todos conhecem seus esconderijos.
É a questão da segurança do patrimônio.
Os donos talvez sejam novas bananeiras,
verdes, cortadas, quebradiças,
ainda plantadas em 2019.
Do meu livro:"A criança, substantivo sobrecomum"