ATRÁS DO SOBRADO

Atrás do sobrado onde vivia,

o menino via a mansão,

uma casa de pedras beges

muito, muito antiga.

O menino ainda não conhecia o antigo.

Atrás do sobrado,

no terreno da mansão,

o menino também via um tanque de concreto vazio.

Era a piscina sem o azul dos nadadores.

O menino não conhecia piscinas.

Atrás do muro,

entre o sobrado e a mansão,

o menino via grandes bananeiras

de folhagem verde cortada e quebradiça

que aceitavam o vento.

O menino não conhecia bananeiras,

pois bananas surgiam da feira de sábado.

Atrás do sobrado

na mansão,

o menino nunca viu ninguém ali,

não imaginava a cara dos donos,

O menino não conhecia esconderijos em 1969.

Hoje atrás do sobrado ainda intacto,

onde morava o menino,

construíram um prédio de apartamentos,

um edifício muito, muito alto

e o menino já aguarda a velhice,

as piscinas disputam um azul de muitas raias

e o menino nem procura os moradores,

donos das varandas.

Todos conhecem seus esconderijos.

É a questão da segurança do patrimônio.

Os donos talvez sejam novas bananeiras,

verdes, cortadas, quebradiças,

ainda plantadas em 2019.

Do meu livro:"A criança, substantivo sobrecomum"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 19/11/2018
Reeditado em 01/08/2020
Código do texto: T6506693
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