Aos mortos, aos vivos
1/11/1918- 1/11/2018
100 anos
Aos mortos que não mais irão regressar
Aos vivos
Que é impossível ressuscitar
Às lágrimas
Que descobrimos então
Serem impossível de secar
À humanidade
Que para sempre teve que mudar
À História
Que nos deu uma lição
Que teimamos em esquecer
Às futuras vítimas
Que por causa desta amnésia
Hoje
E um dia algures no futuro
Não deixarão de morrer
Aos que regressando
Nunca chegaram a sair das trincheiras
Aos que os receberam
Que querendo, nunca mais puderam estar à sua beira
Ao soldado esquecido
Aquele de cujo sangue
Foram feitas as medalhas
Usadas pelos Marechais
E pelos políticos
Que assim celebraram as matanças
Que lhes deram um lugar na história
Medalhas
Que valem pouco mais do que merda
Porque tudo deixa de fazer sentido
Quando um homem parte
Para combater em nome de nada
Parte para não mais voltar à sua terra
Ficando algures perdido num campo de França
Deixando viúva a sua geração
Deixando um vazio
Tão grande no coração
Que ainda hoje o sinto
Nunca deixarei de sentir
Porque no dia em que o fizer
Todo o sofrimento
Terá deixado de existir
Usando por isso
A memória
Como seguro de vida
Perante um futuro que se adivinha sombrio
Usando a memória
Para que a História
Nunca mais se volte a repetir…