NOBRE ARTE
Senhoras e senhores,
hoje tomei a mais sábia decisão:
por não mais morrer de amores
fui e levei comigo meu coração...
Enquanto pela porta saía
ela, de camisola amarela
e pantufas cheias de alegria,
debruçada ria na janela...
Malas nas mãos o táxi esperei,
que demorava a chegar;
nem me lembro se chorei,
só a escutava gargalhar...
Os vizinhos espiavam entre cortinas,
alguns nas portas escancaradamente;
uns diziam - é um erro - outros - é sina,
e eu, já em desamor, caminhava indiferente...
Sei que não há volta para quem parte
desta maneira quase abismal e fria;
fazer o amor durar é a mais nobre arte
que pode ousar quem vive de poesia...