Estás presa desgraçada aranha, em profunda melancolia?
Estás presa desgraçada aranha, em profunda melancolia?
Tu, construtora de redes, viste atônita e indefesa a destruição de teu laborioso lar
Reclamaste aos teus deuses?
Rogaste ao vento, que te enviou destruição, as mais pestilentas pragas?
Como? Como vês silenciosa e triste a crueldade do tempo?
Tempo...
Tempo que definhou furiosamente os fios de teu mundo
Provou desdenhoso a tua insignificância perante os céus
Despedaçou tua segurança flutuante
Ah! Segurança flutuante...
Responda-me aranha maldita
Como alimentarás teus monstros vorazes?
Tuas crias gigantes mortas ao primeiro golpe
Diz-me então a aranha:
Invicto eterno, nada além de derrotado
Oh! Sou o fogo que se tornou brasa
E espera a nova chama
Meu lar desmorona por ser demasiado pesado
Pesado demais para o mundo real
Segurança flutuante é minha teia
Minha verdade, meu reinado
Sem a qual o mundo seria insuportável
E eu apenas um grão a menos, um corpo que cai
Minha teia beira o abismo
Cairei dela despedaçada
E ela reconstruirei
Num ciclo inútil
A mais necessária das inutilidades
E assim será até o momento da queda final
A queda livre eterna rumo ao desconhecido temido
Minhas crias morreram
Minhas teias não importam mais
Chegou a hora...
26/08/15