Estás presa desgraçada aranha, em profunda melancolia?

Estás presa desgraçada aranha, em profunda melancolia?

Tu, construtora de redes, viste atônita e indefesa a destruição de teu laborioso lar

Reclamaste aos teus deuses?

Rogaste ao vento, que te enviou destruição, as mais pestilentas pragas?

Como? Como vês silenciosa e triste a crueldade do tempo?

Tempo...

Tempo que definhou furiosamente os fios de teu mundo

Provou desdenhoso a tua insignificância perante os céus

Despedaçou tua segurança flutuante

Ah! Segurança flutuante...

Responda-me aranha maldita

Como alimentarás teus monstros vorazes?

Tuas crias gigantes mortas ao primeiro golpe

Diz-me então a aranha:

Invicto eterno, nada além de derrotado

Oh! Sou o fogo que se tornou brasa

E espera a nova chama

Meu lar desmorona por ser demasiado pesado

Pesado demais para o mundo real

Segurança flutuante é minha teia

Minha verdade, meu reinado

Sem a qual o mundo seria insuportável

E eu apenas um grão a menos, um corpo que cai

Minha teia beira o abismo

Cairei dela despedaçada

E ela reconstruirei

Num ciclo inútil

A mais necessária das inutilidades

E assim será até o momento da queda final

A queda livre eterna rumo ao desconhecido temido

Minhas crias morreram

Minhas teias não importam mais

Chegou a hora...

26/08/15

Daniel Bernardo
Enviado por Daniel Bernardo em 09/11/2018
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