NO CORAÇÃO DO TEMPO
Noit’eterna... e sutil
Oh, quanta demora, ao que se corre ao longo de tudo!
Da doce voz a cantar em silêncio a melodia do tempo
Nas suas cordas que s’esticam e perenemente vibram
Na harmonia ou, quem sabe, na dissonância do que na vida s’ouve
Entre tons graves e agudos que s’alternam, contudo não se contradizem
A fugirem, é claro, de qualquer cacofonia
E quem fora dela ausente estaria e de seus longos acordes?
D’alvorada do primeiro dia do tempo que acordou
Porém, seria somente do tempo?
Ou não seria igualmente da vida... ou mesmo de Deus?
(e quanto se recusa a dormir: o tempo, a Vida, Deus!)
Até o ocaso do derradeiro instante que inevitavelmente virá
Oh, sem dúvida!
E no horizonte de meus reais olhos eis que vejo um anjo a me chamar:
“Ah, vem!
Todavia, vem sem demora pelo tanto que te protelas em daí te sair
Mas, por que tanto retardas?
Acaso crês tu que aqui serás, pois eterno?
E par’aonde vais que nem mesmo tu em verdade saibas?”
Oh, fato que amanhã deitado estarás abaixo da terra
Do grosseiro corpo a que neste prazo pouco deveras gozou
E se não soube no prazo a alegria nem o choro d’agora
Serás adubo a alimentar as rosas que hoje não reparas
Nem tampouco as amas
(e acaso tal feito conseguirias?)
Que pena!
Então, aproveites o presente instante que a vida te ofertas
Porque, com certeza, não voltarás aqui outra vez
Oh, por que insiste em se crer, o contrário... ó minh’alma?
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27 de outubro de 2018