OBJETOS ESTRANHOS
Pelo telescópio te vejo culpar os outros
pelo rasgo na sua calça,
pela cinzenta massa que te condena,
te vejo sonhar com um navio de luxo,
uma viagem ao nunca mais dos seus problemas,
te vejo culpar os poetas por rasgar sua alma...
Me conte, use minhas palavras mais velhas,
apanhe no pé de idéias palavras ainda verdes,
cante ao pássaro a canção que aprendeu com o silêncio,
abra as mãos e solte o pó de ouro que te aprisiona,
te vejo assim todo pensativo no abusos da humanidade,
pelo telescópio meço sua altura e és um arranha-céu
ou um chumaço de algodão que caiu da carroça,
te chamo e não me ouve,
me chama e nenhuma palavra sai de sua boca,
será que estamos aprisionados numa zona de quietude
ou num jardim que nenhum anjo carpina,
ou será isso um sinal de estamos possuídos
pela estranha magia que condena poetas ao sono,
ainda olho pelo telescópio e só vejo fumaça,
nenhuma presença de fogo fátuo,
parece um reino de água líquida e frio,
guardo o telescópio e o que vejo não é diferente,
é apenas o retrato deste tempo sem música celeste,
uma geleira se aproxima e cai do céu um objeto estranho...