Adeus a um cão peão
O Fred foi nosso cachorro
por mais de dezessete anos.
Foram lindas as lembranças
da interação com nós humanos.
Hoje esse tempo acabou,
mas a gente lembra do vivido.
Sâo todas lembranças boas,
que cachorro mais querido!
Não vou falar que era como humano,
não gosto de exagerar.
Mas na escala de amizade canina
ele foi mesmo mais que exemplar.
Quando ele entrou em sofrimento
sentimos que teríamos de interferir.
Dar fim a tal situação
seria o melhor caminho a seguir.
Como sempre fomos bem atendidos
pelo nosso veterinário Renato.
Que carinhosamente nos assessorou,
explicando muito bem cada passo.
Quando não tinha mais jeito...
sentimos chegar o momento.
Era hora de livrá-lo
de todo aquele sofrimento.
Ele partiu tranquilo...
mas sinto que um recado mandou.
Isso que ele quis dizer
escrever agora eu vou.
Eu tive três irmãs,
quatro filhote nas ninhada.
Na época de sermos doados,
comigo ninguém queria nada.
Minhas irmãs eram as preferidas
por todos os possíveis adotantes.
Senti que seria o último,
que todas elas iriam antes.
Mas um dia chegou pra nós
uma visita diferente.
Senti que era cachorreira,
gostava mesmo da gente.
Era uma mulher boa,
isso eu pude notar.
Queria que fosse minha dona,
eu teria que me declarar.
Para minha tristeza,
uma das três irmãs ela queria.
Precisava agir muito rápido,
corri pra ela e demonstrei alegria.
No entanto, ela não ligou,
por isso tive de insistir.
Fiz isso umas três vezes,
não podia desistir.
Por fim ela não resistiu,
dada a minha insistência.
Me levou com ela
para a sua residência.
Luiz era seu marido
e o casal tinha três filhas.
Tanta gente pra brincar comigo,
olha só que maravilha.
Por um tempo a gente morou
lá na rua Teresina.
Quando terminou a construção
mudamos para a rua Santa Catarina.
No lado de fora tinha um piso claro
que brilhava quando chovia.
O chão refletia a minha imagem
mas isso eu não sabia.
Pensava que era um cachorro
que só aparecia quando chovia.
Latia, latia e latia... expulsá-lo de casa
era tudo que eu queria.
Aquela situação me estressava
e comecei a observa a atmosfera.
Quando o tempo começava a virar
eu já ia virando fera.
Fui ficando então perito
em a chuva prever.
Pois o chão ia ficar molhado
e o cachorro intruso iria ver.
Cada vez mais foi aumentando
meu poder de antecipar como seria o dia.
Lá em casa, alguns me chamavam
de especialista em meteorologia.
Um dia chegou em casa
uma cachorrinha fofinha.
Com alegria descobri
que seria colega minha.
Era uma cachorra calma
com pose de aristocrática.
Nala, bondosa e humilde,
tinha formação diplomática.
Mas os dias foram passando
e doente ela ficou.
Me antecedeu no outro plano,
viajou para onde eu vou.
Depois veio uma cachorra espevitada,
a quem também deram o nome de Nala.
De diplomática não tinha nada,
mais parecia uma cavala.
Um dia a casa adotou
uma cachorra atropelada.
Veio para conturbar,
não respeitava nada.
Um dia ela brigou com a Nala,
foi muito forte a agressão.
E a coisa foi se repetindo
até encontrarem solução.
Encontraram um lugar pra ela
mas era em outra cidade.
Meus donos então a levaram,
foi uma necessidade.
As meninas do casal, nesse tempo cresceram.
Em outras paragens foram morar.
Estão buscando seus objetivos,
mas de vez em quando vinham nos visitar.
Marcela, se formou em Arte
e em São Paulo foi trabalhar.
Talentosa do jeito que é,
ainda tem muito pra brilhar.
Na cidade de Botucatu,
Mariana, Medicina foi estudar.
Ela ainda vai ajudar
muita gente doente neste lugar.
Ajudei a incutir na Luiza
o amor pelos animais.
Em Jaboticabal, estuda Veterinária,
a arte de curar nossos ais.
Vivíamos então felizes,
eu, Nala 2 e o casal.
Fui ficando muito velhinho
e comecei a passar mal.
O final da história todos sabem,
disso todos tem consciência.
Um dia vamos embora,
sempre foi essa a tendência.
É claro que ir embora é chato,
mas pra isso não tem jeito.
O importante é avaliar nossa vida
baseado no que foi feito.
Vivi feliz nessa família,
nada tenho a reclamar.
Tive amor e apoio devidos
sempre que vim a precisar.
Me deram também uma morada
e nunca faltou ração.
Nela, o Luiz ainda colocava
uma farta colher de requeijão.
Principalmente pras meninas,
de quem não pude me despedir.
Desculpem a falta de jeito,
mas eu precisava mesmo ir.
Cuidem uns dos outros e da Nala,
que eu ficarei muito grato.
Sua família é maravilhosa
apesar de todos aqueles gatos.