Insensatez

A nau navega em mar vermelho

Latejando as têmporas da madrugada.

A escuridão traz fantasmas de ancestrais e o lamento das ondas funde a ferro quente lembranças n’alma.

Músculos retesados, a dor invade visceralmente todos os poros rogando por calmaria.

Os sentidos clamam pela chegada

Se agarrando a pequenas brechas de lucidez.

O tempo inexiste,

Horas, dias, anos,

segundos fundidos em centenas de corpos amalgamados.

Massa escura e luzidia banhada pela luz escarlate do açoite.

A travessia transpassa tempos e espaços,

Seu toque é sentido, seu tempo é contado no contato do aço nos punhos fechados

Cortando pele, envergando corpo e alma numa força sobre-humana.

Ligando passado e futuro, o presente é tecido pelo destino de uma nau desgovernada.

Poesia recitada no Sarau Afro-Curitibano - 2016

Silvana Mello
Enviado por Silvana Mello em 27/08/2018
Código do texto: T6431718
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