Insensatez
A nau navega em mar vermelho
Latejando as têmporas da madrugada.
A escuridão traz fantasmas de ancestrais e o lamento das ondas funde a ferro quente lembranças n’alma.
Músculos retesados, a dor invade visceralmente todos os poros rogando por calmaria.
Os sentidos clamam pela chegada
Se agarrando a pequenas brechas de lucidez.
O tempo inexiste,
Horas, dias, anos,
segundos fundidos em centenas de corpos amalgamados.
Massa escura e luzidia banhada pela luz escarlate do açoite.
A travessia transpassa tempos e espaços,
Seu toque é sentido, seu tempo é contado no contato do aço nos punhos fechados
Cortando pele, envergando corpo e alma numa força sobre-humana.
Ligando passado e futuro, o presente é tecido pelo destino de uma nau desgovernada.
Poesia recitada no Sarau Afro-Curitibano - 2016