AH POETA...

Ah poeta,

que a vida não se presta a sortilégios,

só os profetas

sabem a altura da alma e do prédio...

Poeta,

acostume-se a ver navios

em livrarias em fechamento;

nem que acendas da cultura o pavio

terás o recheio para por no pão, dentro...

Ah poeta,

que gasta as horas de sua vida

tingindo o papel com o sangue de sua alma,

nem vê o passar do unguento sobre tua ferida,

teu espírito sôfrego busca nos versos a calma...

Poeta,

que sabes ser derivado da algaravia angelical,

ungido pelo dom de doar palavras cheias de cor,

flutuas, bem sabes, um pé em cada canoa,

a do bem e a do mal, e remas com fúria e amor...

Ah poeta,

toma estes versos como água à tua sede,

estenda entre Saturno e Júpiter, para a sesta,

essa, tecida pela carne e pela luz, a tua rede...