"Não vai doer", ele disse
Pra não me preocupar
Que morava na rua de baixo
Pagou-me uma pizza, um sorvete...
Tão amável, ele
"Vou adotar seu filho!" Disse outro
"Vais morar na minha casa"
Tomamos cerveja, comemos pastéis
Me deu cigarros, uma blusa...
Tão solidário, ele
Meu padrasto, jogou-me na rua
Indiferente aos apelos de minha mãe
Que clamava pela sorte dos netos
"Na minha casa você não fica! Sua..."
Tão violento, ele
Nunca mais vi minha mãe
Dizem, que mudou-se da rua
Os filhos (todos), como eu, pela rua
Carecemos de amor, solidariedade...
Peço, não pra mim
Peço pros filhos, pelos filhos
Os meus, os seus.
S. Paulo, 30/05/1996
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