BORBOLETA AZUL

Sentado na varanda,

a ver o sol se largar trás os montes,

passa por mim o lagarto que anda,

o suor severo me cobre a fronte...

Descasco a laranja lima

com o canivete de mil usos,

dado a mim por minha doce prima

para desatar porcas e remover parafusos...

Dizem, nos livros, que a vida está nos prédios,

nos búzios, nas cavernas cheias de ouro,

não aqui, misto de luxúria e quase tédio,

sob a égide de mansos outros agouros...

Digo, sentado nessa cadeira macia,

que o vento me traz segredos à vontade;

vejo pássaros esculpindo no ar algaravias,

um quê delicado de futuro e saudade...

Pouso a mão e a lambe o cão que amo,

a terra entre os dedos em meus pés descalços

me traz a sensação de quando árvores planto,

minh'alma serena, borboleta azul, ao céu alço...

Dê-me outro mundo e o devolverei,

mesmo que com máquinas e robot's;

o tempo que tenho sei que o viverei

com os de antes, como meu avô...