MAR DE POESIA

Compro sempre um saquinho de silêncio

para misturar a um pacote de palavras:

podem até me chamar de Prudêncio

ou o Homem Que Ora Lê Ora Lavra...

Saquinho aberto no ar, um deserto,

ao que está no pacote, mil oásis:

o sol de Madagascar de mim tão perto,

o rio de fonemas gerando mil frases...

Todo ser que lê deveria ter

um maço de notas falsas e um de versos verdadeiros:

esculpir-se-á bocas cerradas que voltariam a dizer

poemas de Baudelaire e de Mallarmés sorrateiros...

Todo silêncio vem acompanhado de psius

ditos por oradores mudos em púlpitos de laje fria:

só aquele que tornou seu ouvido um funil

pode receber a maré sedosa de um mar de poesia...