CICLO
E assim sigo seguindo, sendo,
vou neste mar de loucuras
a colher ilhas e seguir vivendo
os espinhos e as doçuras...
A enfunar as velas e partir,
deitar-me na rede do barco;
viver, diz o fado, deve ser ir
como flecha depois do arco...
Se altas são as montanhas, voo,
se fundos os abismos, salto;
minha voz, eco de minh'alma, soo
como simples fera neste mato...
Só se completa o ciclo do ser
depois de se ter sido o que se é;
a casa da morte só abre a porta a quem bater
com o mapa da existência da cabeça aos pés...
Se perguntares ao teu anjo como se faz,
lhe dirá ele que existir é a única possibilidade;
só cumpre batalhas interiores quem busca a paz
depois de eras de luta pela única e sábia verdade...