O MOTIVO
Porque já não sou mais aquele que irrompeu o dia;
porque nunca fui tudo aquilo que, quiçá, seria;
por ter chegado ao fundo,
por desdenhar do mundo,
não devo então fingir.
Porque todos arcanos revelaram-me o segredo:
contaram-me das brechas que escorriam-me entre os dedos.
Por ser do medo oriundo,
por ter os pés imundos,
não posso mais fugir.
Em vista desse amor que ofereceste sem recibo
à custa de um querer demasiado embevecido
desmantelado e torto
(absorto e reprimido),
é que me tens perdido.
Por conta dessa luz que, a mim, sem troca, dedicaste.
Por toda escuridão que, assim, sem preço, sobrestaste;
pra que se chegue ao ponto
e a fada esqueça o conto,
é que devo partir.