Somente a boa sensação.

No dia em que a gente nasce

O tempo a viver é pouco

Entretanto a gente perde

Muito tempo sendo louco

Louco o suficiente

A ser cego e não perceber

Que o tempo a viver é pouco

E que nada na vida é da gente

Nem mesmo a gente

Somente a nossa vontade

Então, sinta a brisa morna

A beijar o teu rosto

Assim que esse dia termina

Nenhum dia na vida retorna

Veja o vidro do relógio

Envelhecer com as horas

A genuína verdade

Passa na nossa frente

E toda oportunidade

Que vai e não volta

Era verdadeira

O ponteiro sempre volta

Pois o tempo, na verdade

Passou pelo vidro

Ao levar-lhe o brilho

Assim são as coisas

Que a gente perde

Ouça o sino da velha igreja

Veja há quanto tempo ele badala

E mesmo assim você

Não saberia dizer

Sobre ser a mesma vibração

de cada badalada triste

A vida se cala, quando não se ouve

Na simplicidade, a verdade da vida

Embarcamos na viagem

Mas há muito nos esquecemos

da boa sensação

Que é olhar o trem sobre trilhos

Enquanto ainda na estação

Há muito eu não olho o brilho

das gotas de chuva bater no chão

É assim que o tempo trabalha

E é dessa maneira que perdemos

A batalha pela vida

Porquanto a vida não é batalha

É apenas vida

Veja, que enquanto crianças

A gente deseja crescer bem depressa

E nessa pressa em crescer

Se esquece de guardar um pouco

da criança que deixou de ser

Pra poder sê-la outro dia.

Mas nenhum dia na vida volta

O tempo, o vidro do relógio

O beijo morno da brisa

A imprecisão no badalar dos sinos

E quando menos se espera

Um dia o trem sai dos trilhos.

Edson Ricardo Paiva.