FADO

Ah que fado é este

que me torna mar e lança sua rede

em busca do meu mais fundo de sonhar,

eu, impossível cantor, mudo, a cantar?

Que fado dói-me tanto

que torna tudo o que conheço espanto,

faz-me regressar aos tempos estivais,

eu, pescador cansado, a procurar um cais?

Fado, que faz sempre assim

o que já sempre faço a mim,

por-me a cantar no topo da montanha

de minhas tristes entranhas,

a buscar o colo secreto do amor,

eu, só, à seus pés sempre a me pôr?

Fado, cessarei cada palavra fria

para que eu possa retornar à poesia

que desveste deuses e cobre homens,

eu, nu de possibilidades, nesta louca fome...