A ULTIMA ESTRELA
Chegara enfim ao penhasco justiceiro.
Abaixo, apenas o rugir dos enlouquecidos.
Ondas gigantes abriam os braços tentadores.
Pedras de ponta dançavam sob as águas.
Os ventos sibilavam em cânticos de sereias.
Contudo, hesitava entre a razão e o orgulho.
Sua loucura gritava porquês e motivos em direção aos céus.
Seus gritos perdiam-se na imensidão dos espaços siderais.
Indiferentes a tanta dor, nuvens ameaçadoras uniam-se para decretar a tempestade.
A vida se esvaia entre raios e trovões angustiados.
Desamor e solidão: sua sentença de morte.
Nenhuma razão de vida acenava para seu coração.
Na negritude do infinito apenas o carpir do vento por testemunha.
Genuflexa, pronta para o fim, ousou erguer os olhos para o alto.
Uma lágrima dorida sulcou seu rosto contraído pela dor.
Vencida, vislumbrou um minúsculo ponto de luz a brilhar entre os esparsos espaços das nuvens plúmbeas e aterradoras.
Renitente e teimoso em seu destemor exibicionista.
Sentiu-se então invadida pela coragem da pequenina estrela.
Viu-se de novo viva e capaz para enfrentar tempestades.
Orou com fé, ao Senhor das Vidas e das Mortes.
Agradecida por ser quem era naquele momento.
Então, enquanto a chuva lavava seu corpo, quase profano.
E suas lágrimas purificavam a alma renovada.
A última estrela daquela noite redentora, desapareceu ao cerrar-se a cortina escura de seu palco abençoado.
Não sem antes piscar, alegremente, em gracioso trejeito de sublimação...