Ajustar os ponteiros
O ponteiro do meu coração desajustou
Estava estraçalhado, mas funcionava bem
Ele, apesar de pisoteado e ter suas ferragens expostas
Ainda dava para ouvir o tic taquear
A depender da posição que olhasse
Via-se uma cara triste, alegre, sonhadora
Mas, a mais comum era de dor
A cada movimento
Descobriu que se aquietasse nada sentia
Mas todos sofriam
Por que o dia não passava com suas horas
E agora? Os prazos já não existiam
Ninguém saia de casa, do trabalho ou da madrugada
Ninguém se declarava
Ninguém brigava
Nada existia
E de dor em dor
O relógio pulsava
Para que tudo continuasse a existir
Os jornais voltaram a circular
As crianças comemoravam a chegada dos pais
E um relojeiro chegou
Ajustou os pontos finais
E a dor sumiu
Tudo tornou-se passagem
Agora, o que fica é a nostalgia
Porque, tudo passa rápido demais