Saudade

Existiu em um dia no futuro,
um robô que roubava memórias.
Chegava perto da pessoa
e aspirava as memórias por bluetooth.
Acredita, tu?
Num dia era político,
no outro paralítico.
Num dia cumpria pena,
no outro rezava novena.
Num dia era professor,
no outro navegador.
Num dia era skatista,
no outro membro do partido nazista.
Num dia era poeta
no outro consertava bicicletas.
Um dia resolveu parar com isso.
Mas a todos explicou o motivo.
Queria escolher memórias definitivas.
E qual era a justificativa?
O robô queria amar.
Nenhum outro motivo a declarar.
Mas para isso deveria
encontrar uma robô feminina.
Esta deveria, com ele,
compartilhar a mesma sina.
Um dia ele a encontrou
e o plano seguiu em frente.
Coisa de máquina,
de difícil entendimento pra gente.
Escolheu, de um casal, as tais memórias.
Como era de se esperar,
que tinha vivido uma bela história.
Cumpriram seu amor até o fim,
por um longo tempo,
desde o primeiro sim.
Faltava só uma questão de praticidade.
Ajustar os tempos de vida dos amantes
a seus períodos de validade.
Por fim, um deles parou de funcionar.
Mas não é por isso que a história vai terminar.
Ao que ficou funcionando
foi adicionada uma nova qualidade.
Este foi reprogramado
para chorar e sentir saudade.