Os que andam descalços
Os meus pés são terra revirada por diferentes passos e na longa caminhada um rastro se encerra, entre tantos percalços, ainda que não finda a andada.
E são tantas as ruas a gastarem solados, que me pergunto o que a vida consome dos descalços, o couro esfolado, a carne exposta, são tantas as perguntas e tão poucas as respostas.
No asfalto rachado os paralelepípedos emergem. O tempo revela e esquece. Enegrece o branco das fachadas das velhas igrejas, construções coloniais e casarões. Em um mesmo tom de negro do jugo e grilhões.
Marcas de um passado já distante, mas não esquecido, reescrito na pele o mesmo antes no agora pois há sempre o oprimido, o subjugado ... e apesar de minhas mãos e todos estes calos sigo com a palavra empunhada porque um homem é escravo não do que diz, mas, sim, do que cala.
"Quem não trabalha não come é conversa muito falha, porque só vemos com fome o povo que mais trabalha."