Andarilho

Eu vejo tudo

Os olhos cansados com ressacas de lembranças

Os sorrisos quebrados jogados dos telhados de prédios

Vejo crianças sem encarar a estrada das consequências

Carros, calçadas, aviões e flores

E até aquilo que todos juram nunca terem visto

Mas não sinto

Mesmo quando caminho com os pés descalços em cacos de vidro

Sigo uma trilha reta de rostos que não me encaram de volta

Não percebem o calor do meu corpo, nem as oscilações

Apenas beleza, dinheiro e carisma interessam

Me convenceram de que não posso dar isso a eles

Os aplausos e elogios me ensurdecem

Eles já viram o mundo real?

Onde as máscaras são transparentes?

E já que ninguém tem nada a oferecer

Sobreviveriam sem os aplausos?

E sem o espelho escuro dizendo que é hora de dar alimento

Ao monstro do ego dos malditos rostos?

Todas as noites, eu vejo erros e cicatrizes

Acenando em um espelho sujo

Se acordo, ouço as paredes desabando

Mais alto do que bombas

E minhas metades permanecem soltas

Só lembrando que as horas ainda estão em silêncio

Em silêncio, as vozes me sussurram

Dizendo que não importa o quanto eu veja

Os dias continuarão a me assombrar

Cheios de vazios

Não terei rostos me encarando de volta

Ou aplausos

Apenas seguirei com os mesmos pés descalços.

Ramoon
Enviado por Ramoon em 08/07/2018
Código do texto: T6384326
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.