Andarilho
Eu vejo tudo
Os olhos cansados com ressacas de lembranças
Os sorrisos quebrados jogados dos telhados de prédios
Vejo crianças sem encarar a estrada das consequências
Carros, calçadas, aviões e flores
E até aquilo que todos juram nunca terem visto
Mas não sinto
Mesmo quando caminho com os pés descalços em cacos de vidro
Sigo uma trilha reta de rostos que não me encaram de volta
Não percebem o calor do meu corpo, nem as oscilações
Apenas beleza, dinheiro e carisma interessam
Me convenceram de que não posso dar isso a eles
Os aplausos e elogios me ensurdecem
Eles já viram o mundo real?
Onde as máscaras são transparentes?
E já que ninguém tem nada a oferecer
Sobreviveriam sem os aplausos?
E sem o espelho escuro dizendo que é hora de dar alimento
Ao monstro do ego dos malditos rostos?
Todas as noites, eu vejo erros e cicatrizes
Acenando em um espelho sujo
Se acordo, ouço as paredes desabando
Mais alto do que bombas
E minhas metades permanecem soltas
Só lembrando que as horas ainda estão em silêncio
Em silêncio, as vozes me sussurram
Dizendo que não importa o quanto eu veja
Os dias continuarão a me assombrar
Cheios de vazios
Não terei rostos me encarando de volta
Ou aplausos
Apenas seguirei com os mesmos pés descalços.