CLASSE DIRIGENTE POÉTICA
A classe dirigente poética
quer que eu escreva sobre os pelos pubianos de minha amada
e não quer saber sobre os dentes estragados da minha empregada...
A classe dirigente
quer que escreva sobre a coloração indescritível do sol poente
mas não quer que eu escreva sobre os postos de saúde
e seus doentes...
A classe
quer que eu descreva a beleza impoluta
dos versos leves e odorificados
mas não quer saber dos mandantes de crimes verbais
insolúveis e multiplicados...
A classe dirigente poética
quer os verbos sem nenhum tipo de modificação
que os tornem modernos
e consequentemente não deseja que se use
os próprios pelos sob os ternos...
A classe dirigente
quer que os condôminos dos livros arrolados
permaneçam cheios de traças
e nem remotamente publiquem obras
que estejam cheias de pureza e graça...
A classe
quer que os pagamentos das mensalidades
sejam pagos total e regiamente
e não quer nem ouvir falar
em poetas pedintes achacando os dirigentes...
A classe dirigente poética
fará saraus com curau e espigas de milho
e muita pamonha com queijo e sem
mas não deseja que seus sócios
fiquem falando mal do presidente e nem bem...
A classe dirigente
fará eleições de quatro em quatro anos
apenas para que alguém não possa supor
que manda e desmanda e que não aceite
que surja algum poeta combatente e opositor...
A classe
publicará regularmente os poetas escolhidos
por uma comissão interna e seletiva
e não publicará esses poetas que por seus versos
amados até perdem a vida...