CANTAR NO CORO
Não queira que a poesia se torne propriedade
com porteira arame farpado jagunço e cachorro
ela não se prende nem às algemas nem às grades
escapa sutil por entre fendas e vai cantar no coro...
Poesia é algo desconhecido do conhecimento humano
não tem manual nem estranha bula nem é santo remédio
vez ou outra aparece num canto falado ou num falar insano
salta os muros grita liberdade às vezes morre de tédio...
Não queira convidá-la para um chá às seis da tarde
nem a chame para um passeio noturno entre padres e prostitutas
repare apenas que uma chama que não se apaga em seu peito arde
e sua voz macia ou triste ela de longe com mãos no ouvido escuta...
Poesia é o que nunca se viu e nem nunca se verá diante das íris
não tem corpo alma ossos nem cartilagens menos ainda sangue
não tem pátria nem nome nem Judas nem Jesus nem Pã Osíris
resplandece numa brilho na lagoa ao lado de rãs lá no mangue...