COMO FOSSE...

Como fosse eu um risco inacabado no papel crepom

espero o artista que terminará sua obra

me dando forma e colocando um coração

no meu peito e com um grito

o acorde e o faça bater

desesperadamente...

Como fosse eu uma lágrima procuro um rosto encantado

que a aceite mesmo que depois um papel a seque

e eu suma nas fibras amarrotadas

deixando um frescor de lembrança...

Como fosse eu um poema que ninguém termina

traga suas palavras amargas ou doces

sua teimosia e sua aceitação

e escreva as palavras finais

e mesmo que me guarde na gaveta

aceitarei o escuro como cego

esperando que algum dia

alguém leia e me traga

de novo à vida...

Como fosse eu um rio desajeitado

que se enrosca nas pedras pontiagudas

venha até minhas margens e olhe minha correnteza

mergulhe nela sua desesperança e deixe que eu a leve

e te sobre os peixes para a tua fome

e o entendimento que cabe a quem procura

uma saída neste labirinto de faunos e seres reais...