OS CINCO SENTIDOS
Já se come as raspas da caneta raspando o papel em branco
derramando tinta como passos de um poeta manco
a buscar o vão de onde pode se ver mundos antigos
refletidos nesses nossos olhos de pálidos vidros...
Já se escuta a dança da grafia em surda porfia
revestindo a cartolina com manchas de poesia
dando ao homem que escreve a chance de ser
ou não ser o que Shakespeare queria dizer...
Já se sente o olor dos poetas em nuvens tão altas
que parecem vasculhar imateriais novas matas
virtuais que guardam novas fábulas e segredos
que é de onde vieram os homens de hoje - sem medo...
Já se toca a canção do futuro em instrumentos imaturos
gerando novas escalas para saltos grandiosos sobre os muros
das tectônicas camadas de impossibilidades até hoje mantidas
criando novas plateias como cria o antigo sexo novas vidas...
Já se vê girinos acesos como vaga-lumes em nossas florestas
dançando o Quebra-Nozes no escuro deste mundo que detesta
a invenção da felicidade dando ao homem o que não lhe sacia
ou seja o verso morto sob a pele rugosa da mais antiga poesia...