A alegria de viver
Vivemos como se não coubesse mais
no mundo o silêncio.
Vivemos cabisbaixo, capionga,
Como se a onda acabasse
A cada quebrada que dá,
Sem vê-la voltar pro mar,
Sem ver em seu fim o começo.
Vivemos como se cada gesto
Não tivesse uma ambição,
Um motivo, uma inspiração.
Como se cada ação fosse, assim,
Indiferente.
Vivemos como se a gente
Não tivesse coração.
Vivemos como se a gente
Fosse de ferro feito,
Daqueles mais duro,
Que nem chega a caber no peito.
Onde não entra emoção, alegria, compaixão.
Vivemos transformando o sim, em não.
Uma vida torta, sem razão.
Esquecemos que viver
Não é sofrer,
E que sorrir
Não é, assim, tão difícil.
Esquecemos que o maior ofício
de quem vive,
É viver.
Esquecemos que o mundo
Não é assim tão mal,
E que flor que nasce no quintal
É sinal de um novo amanhecer.
Que a sina de quem vive é crer
Que o único trabalho, realmente sério,
De quem vive, é viver.
Viver não de qualquer jeito,
Como se a dor no peito
Fosse o fim da caminhada.
Como se a empreitada
Fosse o fim da cantoria,
Do sorriso, da alegria.
Viver como se o dia
Fosse o presente perfeito,
Como se o céu beijasse o chão
A cada pôr do sol refeito,
Como se o mundo coubesse interim,
De verso em verso dentro do peito.