QUE NEM...

Seco, que nem graveto,

asteroide feito androide em nebulosa,

nenhuma mancha de amor no peito,

deserto de camelos sem polvorosa...

Arame, daqueles de cerca de choque,

esticado num tanto de nem se mexer,

carro de rodas quebradas, à reboque,

olho no céu, será que vai chover?

Mudo, que nem papavento calado,

nenhum verbo, nem adjetivo, ponto,

noite soturna num beco agitado

pela ventania de deixar nego tonto...

Acordei assim, no espaço,

sem gravidade e nem desejo,

acho que é falta de abraço,

acho que é falta de beijo...