Pelas Alamedas
Ela andava pelas alamedas
Em um dia de muita luz,
Mas lhe atormentavam as perdas
E sentia no dorso o peso da cruz.
No peito a dor lhe apertando,
Sua alma encharcada de medo,
O rosto pálido sem encanto,
E na boca um gosto azedo.
Já não tinha certeza nenhuma,
Nem uma bússola de esperança,
Nada de confiança e, em suma,
Não possuía vestígio de crença.
Era pouco mais que um zumbi
Caminhando sem algum sentido,
Sem qualquer emoção para sentir
E sem aquela fé que havia possuído.
O vento então lhe socou o rosto,
A chuva lhe bateu no couro cabeludo,
Suas roupas ficaram em ensopo,
E seu caminhar deixou de ser mudo.
Gritava pelos sapatos transbordantes
Que massacravam as poças cheias
Das águas fluviais congelantes
Desacelerando o fluxo das veias.
A respiração tornou-se ofegante,
Levantaram-se os pelos dos braços
E ela sentiu um frio deselegante,
Como flechas penetrando o aço.
Finalmente um sentimento bandido
Roubou-lhe um espaço no peito,
E a emoção que havia perdido
Sanou, de seu coração, os defeitos.
Naquele extraordinário instante,
Sentiu que ainda vivia
E apesar das feridas constantes,
Uma filha de Deus, ali renascia.