VOTO DE SILÊNCIO
VOTO DE SILÊNCIO
tem dias que meus lábios
se esvaziam de palavras
escravas de nenhum sopro
de nenhum tremor sonoro
que denunciem minha prisão silenciosa
e cada palavra se torna antitérmica
reclusa em hipotermia
mais fria e insolúvel no intervalo do não dito
nem gemido afastado
nem suspiro despronunciado
muito menos grito
que não guarda eco
tem dias que meus lábios
se esquecem de se afastar
e se selam feito grades
e nesta cela feito útero infértil
não procriam frases
nem proferem preces úmidas
secos que estão
no estéril esquecimento de dizer
Mírian Cerqueira Leite