CORTEJO

Palavras que não tempero

como como se fossem favos,

nem tampouco me esmero

em temperar com cravos;

o que digo é sincero,

quase um doze avos...

Sabidamente a vida move

seus cordames sem sobreaviso

e o que sente logo se comove

com presentes e castigos,

o que não sente logo se contorce

como lombriga num gelado piso...

Ao léu ou à esmo ou sem destino

segue o cortejo de humanas feições,

seja do mais velho ao mais tenro menino

em batimentos de um quase sem fim de corações

na procissão natural em que a fome bate o pino

quando mastiga as energéticas mil e uma sensações...

Ninguém volta da festa vestido como estava

e nem vai de novo ao encontro do vazio absoluto

caminhando pela orla friorenta à beira da praia

sabendo que o fim restaura o reles e o impoluto

seja ao mome de calça ou à mulher de saia...