NO SANGUE DO POETA

A poesia não está na enxada

e nem no suor que do homem se vai

mas sim na parte oculta e exata

de luz que sobre os ombros lhe cai...

Cansado mas feliz lê em voz alta

o fruto do seu trabalho operário

e dança ao som do que na pauta

escreveu-lhe o anjo solidário...

O mundo ao redor se lhe entra n'alma

e o aquece e em banho Maria o apascenta

com minúsculos fonemas que lhe dão calma

como leite de mãe em sua outrora placenta...

Cores perdidas retornam em miúdas flores

e soltam ais que soam como o grito do salmão

que sabe que se deitará a mesa de senhores

que precisam de sal açúcar óleo e pão...

A poesia se mistura à tenra alface

que vai da mesa à boca insaciada

e sabe que no sangue do poeta nasce

herdeiras poesias vestidas

como se fossem palavras...