POUSO
Posso morrer ontem
mas estou secreto de vivências agora,
tenho a aorta repleta de alfaces,
mudo a rota dos dentes
e mordo o cabo da chuva que guarda pingos,
ainda não estou louco,
mas posso rir sem abrir a boca
toda manhã...
Posso escrever amarelo sem lápis de colorir,
ainda sou grego de palavras
e sábio de convulsões,
restrinjo sem saber o que me pulsa,
apanho restos de íris
no chão das larvas tenras...
Posso amar as palavras se me deitar com elas,
ranjo minhas portas e abro meus impulsos,
crio centenas e rasgo moles obscenidades,
o pai do meu pai pousou seu avião e eu nasci...
Caibo dentro do lápis
sem apertar meus miolos,
por isso escrevo rebentos
no dorso de sutis borboletas...