PELOS BURACOS DO TAPUME

Nada de perguntas quando a nudez acontece

e o cérebro musculoso suavemente tece

os movimentos de uma palidez etérea, outonal;

as ruas se enchem de pessoas e uma prece

ecoa pelas alamedas como se alguém quisesse

guardar sonhos perdidos dentro de um embornal...

Nada de teoremas quando sai de ti o perfume

de sombras que vieram te trazer o límpido lume

que afaga pensamentos que se enroscam em teus pés;

os transeuntes espiam de soslaio pelos buracos do tapume

o teu andar compassado como se pisasse em um afiado gume

dividindo o seu inteiro interior mostrando ao mundo quem tu és...

Nada de espalhar fiapos de faces angelicais sobre as fendas

que se encolhem diante de íris abastecidas por luzes de rendas

que colhem papoulas virgens em campos de Indonésias incuráveis;

sentimento tecido no arcabouço mental que pouco a pouco venda

o rasgo na teia celeste posta por mãos fiandeiras dentro da tenda

onde deuses dormitam ao som de cães metálicos, assombráveis...