Relato de uma mãe que não pariu
Pertenço toda ao tempo
O soluço e eu
Nas batidas dialéticas de 1 por 1
Geleia de Gaia
Suor de Pachamama
Assim vejo o útero faminto
Matando a fome dos seus
Não gero filhos
Pulso fatos, fotos, febres, fantasmas
Deméter que não ouça
Mas sou mãe sem dar à luz
Mãe virgem de poros expostos a um grão ovular
Posso dormir, talvez
E dizer adeus sem rabiola
Sem alguém para me amar à prestação
Não pretendo deixar de avermelhar numa gestação
Escorro o socorro da vulva viva dilatada que grita o próprio não
Priorizo o excesso de distração
Viagens, leituras, makes, brios
Maria Madá que me apadrinhe com pedras atiradas nos dedos
Quero o oposto da salvação.
Antes de parir, paro
Trilho os contrários,
Gero-me.