Relato de uma mãe que não pariu

Pertenço toda ao tempo

O soluço e eu

Nas batidas dialéticas de 1 por 1

Geleia de Gaia

Suor de Pachamama

Assim vejo o útero faminto

Matando a fome dos seus

Não gero filhos

Pulso fatos, fotos, febres, fantasmas

Deméter que não ouça

Mas sou mãe sem dar à luz

Mãe virgem de poros expostos a um grão ovular

Posso dormir, talvez

E dizer adeus sem rabiola

Sem alguém para me amar à prestação

Não pretendo deixar de avermelhar numa gestação

Escorro o socorro da vulva viva dilatada que grita o próprio não

Priorizo o excesso de distração

Viagens, leituras, makes, brios

Maria Madá que me apadrinhe com pedras atiradas nos dedos

Quero o oposto da salvação.

Antes de parir, paro

Trilho os contrários,

Gero-me.

Patriciah Britto
Enviado por Patriciah Britto em 14/05/2018
Código do texto: T6336250
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