APLAUSOS

O ódio, sempre na primeira prateleira,

à disposição, feito de astúcia e espinhos;

o amor, na última, como o sol na geleira,

esperando o sobressalto, o tato, o carinho...

Entre o amor e o ódio,

nós, que andamos à vezes descuidados;

todos querendo subir ao mais alto pódio,

apesar dos ferimentos e dos pecados...

A arma, sempre na primeira gaveta,

anunciando duelos sem vencedores;

nós, como primevos bebês de proveta,

cuidando dos acidentes, das dores...

Entre a rusga e a paz a conversa,

entre o ato e a perda de consciência

o amor que desaparece, depressa,

ao primeiro movimento da desavença...

Entre o sol que se põe e o que se vai,

entre a despedida e o fique por aqui,

como num peça de teatro o pano cai,

temos que aprender a ver e a aplaudir...