AQUELES DIAS
Sabe aqueles dias em que você sente que morreu a filosofia,
assaltaram a casa da poesia,
roubaram uns versos,
hoje imersos
em formol,
a economia do país à beira do caos
e alguém te propõe o Tao
e só te sobra um si bemol?
Sabe aqueles dias em que você pede a Deus e ele saiu para pescar?
Os anjos estão em férias,
chove o dia inteiro,
alagou o pesqueiro,
a bacia segura a goteira,
o último gole esvazia a garrafa,
o peixe cai na faca,
a tv diz que o sanduba de atum está uma delícia,
ninguém bate à porta,
nem para vender alguma coisa,
nem a polícia?
Sabe aqueles dias em que a tuas poesia está cheia de preguiça,
os versos pendurados nas linhas, como macacos,
os pensamentos enchem o saco,
você se sente um babuíno
tocando o sino
da igreja,
nenhum bilhete te sorteia,
na despensa só um saco de aveia,
os amigos estão dormindo,
as estrelas estão apagadas,
você deseja viver
mas vem aquela vontade de perder
a vontade
e você então faz o mais certo,
um ufa você exclama,
vai em rumo do quarto,
se joga, largado, na cama?